“É um relacionamento”, diz a personagem de Zendaya em uma das deliciosas cenas (e são várias) de “Rivais”, novo longa de Luca Guadagnino (de “Me Chame Pelo Seu Nome”). No caso, sua personagem, Tashi Duncan, falava de tênis, o pretenso mote do filme. Mas “Challengers” (título original, bem mais adequado) é um filme também sobre manipulação e amizade. E é um filmaço.
Tinha tudo pra ser um entretenimento banal, ou só para amantes do tênis ou só pela maravilhosa Zendaya, também produtora do filme. Mas Guadagnino é um dos melhores diretores em atividade, e nos deu mais uma vez uma aula de como adequar sua direção caprichada ao tal tema principal. Está ali a “chatice” do tênis (sou um fervoroso amante deste esporte, acompanho desde criança, jogos, rankings, tudo, e por isso mesmo sei que muitos acham “boring”), como também ali está a disputa frenética, o ápice da competição individual (e em duplas, ok) de um esporte que lida com grandes premiações e fortunas, com jogos exaustivos, egos…
Mas Guadagnino se aliou (mais uma vez) a dois mestres, o diretor de fotografia Sayombhu Mukdeeprom e o montador Marco Costa, para montar um filme bem humano. “Rivais” só tem crescendos, e chegar a um término apoteótico com tamanha maestria é para poucos: a longa sequência final, morosa, mordida, imprevisível, é para saborear (e, em determinado momento, até aplaudir, pelos detalhes deliciosos).
Tem muito de embate, mas tem muito de “dança”, nos entrelaçares de pés, bocas, desejos, opiniões e divergências. A trilha é fabulosa, e tem até Caetano numa das melhores sequências… e mais nem conto.
Falar de Zendaya é chover no molhado: bem dirigida, ela brilha intensamente neste que talvez seja seu melhor trabalho no cinema, um papel não tão fácil devido às difíceis idas e vindas no tempo (é bom ficar bem atento, é a única grande “dificuldade” do filme). Zendaya se sai bem o tempo todo, sempre no limite do “o que queremos: nos apaixonar por ela ou achá-la odiosa?”. Mas a química entre os tais “rivais” Mike Faist (premiado pela versão recente de “Amor, Sublime Amor”) e Josh O’Connor (de “The Crown” e “God’s Own Country”) é simplesmente apaixonante. Na Tisha de Zendaya há mais uma (força da) natureza sedutoramente dominadora do que propriamente malícia ou ambição (e ela possui ambas), e junto aos jovens Art e Patrick – tão próximos e simbióticos e que, adultos, parecem tão distintos (será?) – o trio é intenso, eletrizante e nos captura totalmente.
Será que, tal como no desfecho de uma final de tênis, poderíamos dizer, até de forma blazé, que o resultado de todos esses encontros e desencontros “não interessa”? Os cinco segundos finais podem ser frustrantes para alguns, mas diríamos que “faz parte do jogo”? Não: faz parte é da vida, e de certa forma o final fica em aberto (será mesmo?) para o deleite do cinéfilo.
Na sala escura (que é onde a gente realmente precisa ver essas coisas), é um filme que vai nos arrebatando aos poucos, com cenas incríveis. Tudo “culpa” de Luca Guadagnino, que fez escolhas certeiras para criar um filme sexy, “divertido porém (in)tenso”, vibrante… e excelente.
Tommy Beresford