[Resenhas] Rio, Eu Te Amo
Bem doido. É como poderia ser definido “Rio, Eu Te Amo”, terceiro filme da franquia “Cities of Love” idealizada pelo francês Emmanuel Benbihy e que teve suas duas primeiras produções ambientadas em Paris e Nova York (veja a resenha do Cinema é Magia clicando aqui).
A paisagem deslumbrante do Rio de Janeiro e diversas locações interessantes não são suficientes para tornar “Rio, Eu Te Amo” um grande filme, muito menos um filme apaixonante como seus antecessores. Há bons momentos, mas eles não criam um “todo” realmente marcante. A produção tem diversos problemas, e nem são causados somente pela natural irregularidade dos pequenos episódios, inerente a uma produção com tantos diretores diferentes. Resolvi subverter meu modo tradicional de resenhar e fiz um TopX, ou melhor, vários:
MOMENTOS QUE VALEM O FILME
1. O menino Cauã Antunes. Ele é tudo.
2. Fernanda Montenegro, que constrói “Dona Fulana” com dignidade num episódio ‘assim-assim’ (dirigido por Andrucha Waddington) mas ainda assim tocante.
3. “Milagre”, o trecho dirigido por Nadine Labaki e estrelado por Nadine, Cauã Antunes e um Harvey Keitel deslumbrante. Disparado, é a melhor parte do filme: atores e direção num timing perfeito, sem nada para tirar, nem nada para pôr. Se todos os outros episódios fossem neste nível… Até porque é uma história simples, sem grandes parangolés, e que tem início, meio e fim.
4. “Texas”, de Guillermo Arriaga, o trecho mais sério e dramático de todo o filme. O diretor consegue não deixar pesada a trama do casal vivida em Santa Teresa por Laura Neiva e Land Vieira. Difícil, mas tocante. Ainda tem a locação menos turística e mais curiosa do filme, uma piscina abandonada inacreditável: destaque também para a fotografia de Adrian Teijido. Um ótimo curta que poderia gerar um bom longa.
5. Já citei Cauã Antunes ? Chorei baldes desde o primeiro momento em que ele abriu a boca. Que boa descoberta. A química entre o pequenino ator de 5 anos e o mestre Harvey Keitel está nos olhos dos dois.
6. Michel Melamed, num personagem pequeno mas vivido com dignidade.
7. A paisagem exuberante do Rio de Janeiro tem que entrar nesta lista.
NO MEIO DO CAMINHO
1. “A Musa”, de Fernando Meirelles. É interessante, criativo, quase entra na lista de cima. A bela e inusitada fotografia (do talentoso Cesar Charlone) é mais interessante, porém, que o resultado final. Vincent Cassel entra mudo e sai calado, e mais uma vez é perdida a conexão que, neste caso, foi insinuada e mal construída com a participação de Marcio Garcia.
2. “Grumari”/”La Fortuna”, trecho do italiano Paolo Sorrentino estrelado por Emily Mortimer e Basil Hoffman. A história é mezzo mórbida, mezzo metida a engraçada, de diálogos pobres, chatos e quase sem sentido, mas a boa dupla de atores consegue não deixar ir tudo afundar nas águas de Grumari.
2. “Vidigal”/”O Vampiro do Rio”, do sul-coreano Im Sang-soo. Só não entra na lista de baixo porque Tonico Pereira é um dos melhores em cena no filme inteiro. Parece um trecho de filme de Ivan Cardoso, talvez numa linha um pouco mais bizarro-fashion. O sambão na descida da ladeira é estranho mas dá pra aceitar, considerando que estamos falando de… vampiros. Procurei Kristen Stewart e Robert Pattinson no meio do bolo, mas a saga Crepúsculo já se foi… Surreal, mas divertido. E vale uma menção a Roberta Rodrigues.
4. “Pas de Deux”, de Carlos Saldanha. Pronto, Saldanha escolheu dois bons atores, Bruna Linzmeyer e o agora internacional Rodrigo Santoro, para o par de bailarinos do Theatro Municipal, vai ser ótimo… O jogo de sombras é fascinante, a coreografia é linda, mas… ficou a sensação de que poderiam ter sido escolhidos dois outros atores, até para que se adequassem fisicamente ao casal de bailarinos que verdadeiramente dançam em cena (Cassi Abranches e Diogo de Lima). Requintado, mas com sabor de requentado, quase naufraga em diálogos quase pobres de tão singelos.
5. A música inédita de Gilberto Gil é ótima e boa parte das escolhas musicais também são legais. Mas senti falta de mais “carioquices”.
6. No fundo, apesar de entender o mote da franquia, talvez eu preferisse que todos os diretores e atores fossem brasileiros. Nada a ver com nacionalismo ou coisa do tipo, mas acho que o resultado final faria mais sentido, não sei… se eu olhar bem, Nadine Labaki e Guillermo Arriaga, que não têm nenhuma intimidade com a cidade, se deram bem melhor que José Padilha, por exemplo…
MOMENTOS VERGONHA ALHEIA
1. A montagem com alguns cortes inacreditavelmente mal feitos. Justamente numa área em que a gente melhorou tanto…
2. A pouca — e, quando existente, sem sentido — conexão entre os episódios, tão bem explorada especialmente no filme sobre Nova York, só pra citar de novo a franquia. A “cola”, dirigida por Vicente Amorim, é fraca. Era para Claudia Abreu e Michel Melamed “costurarem” os episódios ? Não deu para entender.
3. Bebel Gilberto, num misto de Noviça Voadora e deusa grega, sob a mais fraca das gravações de “Preciso Dizer Que Te Amo”… “O que é” Bebel Gilberto no filme ?
4. A participação do ótimo Eduardo Sterblitch num papel que poderia ser feito por qualquer outro ator, menos Eduardo Sterblitch, desperdiçado em personagem fraco numa história fraca. Edu desaparece diante de Fernandona. O episódio de Andrucha também parece sugerir que ser mendigo numa cidade linda como o Rio é algo super legal… não sei, não sei qual era a intenção real. O episódio tem um quê de “ok, legal, mas… e aí ?”.
5. “Eu Te Amo”, de Stephan Elliott. Um ator famoso que chega ao Rio, um brasileiro contratado como motorista, e de repente ambos estão escalando o Morro da Urca… Oi ? Ao final, uma insinuação de uma relação amorosa “do nada” entre os dois (Marcelo Serrado e Ryan Kwanten, de “True Blood”). Bem bizarro e forçado, ainda mais considerando que é o episódio em que Bebel Gilberto voa… Cuma ?
6. “Quando Não Há Mais Amor”, de John Turturro. Pra quê, gente, pra quê ? Eu gosto do Turturro, mas seu trecho é sem graça, sem sentido, sem noção. Nem Vanessa Paradis, irreconhecivel, se salva. E de repente ela começa a cantar uma canção em francês, procede, produção ? Episódio desnecessário, apesar da bela Paquetá e da fotografia caprichada.
7. A regravação de “Copo Vazio”, música que eu adoro (de 1973, um ano mítico na música brasileira), foi totalmente bola fora. Por mais que eu ame Chico Buarque, meu ídolo mor, não havia necessidade. Nem para o episódio, nem para o filme como um todo.
8. “Inútil Paisagem”, de José Padilha, sem dúvida o pior episódio do filme. Tem Cléo Pires e Caio Junqueira que… não, não sei o que eles fazem nos poucos segundos que aparecem. Tem Wagner Moura num voo de asa delta totalmente fake… até Beyoncé tem um ventilador na frente dela no palco, e os cabelos de Moura mal se mexem num voo em que ele alcança o Corcovado para dar uma bronca ao Cristo Redentor e terminar com “Tchau, fui, boa Olimpíada”… Oi ? Desnecessário e mal feito, fiquei envergonhado, num discurso de filosofia barata que qualquer um faria melhor numa mesa de bar. O título “Rio, Eu Te Amo” passou bem longe desse episódio.
9. A inserção “sutil” de propaganda (seja de um Boticário da vida ou da própria prefeitura), que nos traz de volta à realidade de repente, achando que está assistindo a uma novela global.
10. Não chega a ser um episódio bem definido, mas por isso mesmo é o mais bizarro: “o que é” a cena de Marcio Garcia comprando um apartamento ? Para que serve ? Qual era a intenção ? Por que foi feita ? Nem o Globo Repórter explica… Sem início, sem meio e sem fim.
Tommy Beresford
Tommy, eu acho que vc perdeu seu tempo fazendo um raio-x do nada. O melhor do filme é o Rio, protagonista imbatível.