[Resenhas] O Escaravelho do Diabo

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Quando a sessão de “O Escaravelho do Diabo” terminou, saí contente da sala escura por ter assistido a um bom filme nacional. Mas estava incomodado, e corri para casa para reler o livro que eu havia lido pela primeira vez nos tempos de escola, um de meus favoritos na época. Eu já não me lembrava mais da trama, e logo percebi que, apesar de ser uma boa produção cinematográfica, era uma obra muito diferente do clássico de Lúcia Machado de Almeida, aquele que praticamente me iniciara no “ramo dos livros policiais”, da leva de primeiros oito títulos da inesquecível “Coleção Vagalume”, série quase obrigatória para os adolescentes dos anos 70 e 80.

Logo lembrei do título de uma matéria da Folha: “Adaptação de ‘O Escaravelho do Diabo’ é fidedigna e sem floreios”. Como costumo fazer, não li as críticas do filme antes de assistir, então não li nem essa nem as demais antes de comprar o ingresso. Mas se há uma alcunha que o filme NÃO pode receber é de ser fidedigno. Tudo é diferente: a cena inicial do livro demora muito tempo para acontecer, o protagonista agora é uma criança, o primeiro assassinado não tem nada a ver com o do livro, os crimes seguintes também não batem com o da trama original, não há a pensão de Cora (Cora nem existe na trama, nem mesmo seus hóspedes), a relação de Hugo com Rachel e Verônica é completamente diferente do livro e até a inserção do assassino no filme é substancialmente diferente! Não há personagens que se tornem suspeitos, retirando assim por completo a possibilidade do espectador tentar adivinhar o final da trama…

O que sobra? O bom clima de suspense, um roteiro interessante ainda que “quase inédito” e um ótimo elenco, com destaque absoluto para uma interpretação incrível do sempre excelente Marcos Caruso. A direção de Carlo Milani é segura, a escolha de Thiago Rosseti foi eficaz, e no início a sensação é de que é completamente pertinente a atualização da época em que se passa a história, mas realmente não consegui entender as opções de mudança na trama.

É o típico caso de filme com mesmo nome do livro mas que são obras por demais distintas. Ainda assim, e mesmo com uma certa morosidade no andamento, é um bom filme nacional, que dá para assistir com prazer se não nos sentirmos traídos pela adaptação. Recomendo a (re)leitura do livro logo após assistir ao longa.

Tommy Beresford

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~ por Tommy Beresford em abril, 18 2016.

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