[Resenhas] Gravidade

gravidade

Li que James Cameron afirmou recentemente que “Gravidade é o melhor filme espacial já feito”. Já boa parte do público do São Luiz carioca detestou o filme, muito provavelmente porque esperava por Sandra Bullock e George Clooney estrelando um “blockbuster hollywoodiando tradicional” (nem sei se esta expressão é possível): a velha pegadinha das expectativas clicheteiras.

De tradicional, “Gravidade” não tem nada. O diretor Alfonso Cuarón tem em seu currículo filmes como “E Sua Mãe Também” e “Filhos da Esperança”, entre outras elogiadas obras, e desta vez conseguiu levar para tela, de forma minimalista e bastante minuciosa em um filme relativamente curto, a agonia de ficar perdido no espaço, que envolve o espectador o tempo todo, em alguns momentos de forma assustadora. Mas não espere um filme de sustos, muito menos apenas de grandes efeitos visuais, e sim um drama com dramaturgia (sorry) aparentemente simples mas muito bem costurada: no fundo, “Gravidade” passa longe de um filme de ficção científica. Conheço tantos que reclamam de ficar fechados em um elevador… que tal se sentir solto no espaço sideral, sem perspectivas reais de tocar novamente em terra (ou Terra) firme ? Uma bela alegoria à fragilidade humana, uma boa reflexão sobre o que damos de importância ao mínimo e ao máximo, e à subjetividade destas duas palavras utilizadas tão banalmente.

Para o espectador, pode dar a impressão que as cenas foram filmadas em apenas um dia ou uma semana, mas certamente o enorme trabalho técnico e de treinamento espacial deve ter sido exaustivo (ainda que em alguns momentos divertido) para os atores. George Clooney no fundo faz uma bem humorada ponta de luxo, apenas escada para uma interpretação intensa do difícil papel de Sandra Bullock, virtual candidata à temporada de prêmios que já está começando. Como preparação, Sandra ficou dias confinada numa caixa de 6×3 metros, acompanhada apenas por uma câmera-robô. Já se imaginou no lugar dela ? Usando a abusando do talento da atriz (num filme com apenas 3 atores!) e, claro, dos efeitos especiais, neste caso tão necessários quanto obrigatórios, Cuáron brinca o tempo todo com a agonia: a prisão numa cabine espacial, o voo no espaço sideral, a incerteza do mergulhar no nada, a densidade do oceano, a falta de oxigênio, o incêndio num espaço fechado, a queda livre na atmosfera… Fogo, ar, água, terra… Perda, renascimento, (re)conquistas — internas ao ser humano, externas ao planeta… Ventre e infinito.

Uma bela ficção, portanto, a partir de um roteiro simples e não necessariamente original: sim, ficção, e como não sê-la, mas muito bela e bem executada. Como curiosidade, o filme custou cerca de US$ 80 mihões, bem menos que “As Aventuras de Pi”, de Ang Lee (mais de US$ 100 milhões) e “Círculo de Fogo”, de Guillermo Del Toro (US$ 180 milhões). É claro que os astronautas profissionais vão encontrar defeitos (já encontraram!), assim como médicos devem ficar horrorizados com as novelas da TV. Mas o público deve ir, repito, livre das enganadoras expectativas e pré-conceitos.

Pretendo rever em breve como minha primeira experiência na tecnologia iMAX, porque deve valer muito a pena. Não perca, e vá com espírito aberto para entrar nesse drama sobre a solidão, nessa viagem tão íntima pelo universo tão infinito.

Tommy Beresford

sandra bullock gravidade

~ por Tommy Beresford em outubro, 14 2013.

2 Respostas to “[Resenhas] Gravidade”

  1. Muito bom o filme,porem achei errada a escolha dos atores e essa insistência americana em narrar dramas pessoais em situações de sobrevivencia. Na minha visão o diretor de Rush faria um melhor filme.

  2. Pra mim, duas palavras descrevem bem “Gravidade”: sensacional! (com a exclamação! 😉 ) e lindo…
    Para quem, como eu sonhava (e ainda sonho, a bem da verdade…) em viajar para o espaço sideral e “se perder” por lá, é muito, muito belo… A agonia da falta de chão, de “chão” mesmo, de se sentir absolutamente livre no espaço me atrai, me cativa e, é claro, ainda mais diante do filme, assusta…
    Mesmo assim, eu gostaria de ver o pôr do sol no Ganges lá de cima… ❤

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