[Resenhas] Era Uma Vez em… Hollywood

Um novo Tarantino sempre é esperado com ansiedade. Ainda que para muitos este possa não parecer ser o melhor do diretor (e isso talvez só consigamos “digerir” de fato daqui a algum tempo), “Era Uma Vez em… Hollywood” é um aulão de cinema especialmente por conta de sua direção minuciosamente preciosa. Na verdade, Tarantino sempre falou sobre cinema em seus filmes, qualquer que fosse seu mote principal, mas desta vez isso é explícito até para o espectador mais desatento.

No fundo (no fundo no fundo no fundo), e mesmo que ela não seja a “real” protagonista, o longa é uma homenagem delicada e bem vinda a Sharon Tate — e daí a importância de você saber “alguma coisa” sobre ela antes de assistir, até porque Tarantino não escolheu “explicar” Tate. No fundo (no fundo no fundo no fundo), a estrela é ela. Mas “Era Uma Vez em… Hollywood” é um filme rico em pequenas referências ao cinema (eu disse “pequenas”?), à televisão e ao próprio Tarantino, mas não queira comparar este seu nono longa a qualquer um que ele já tenha feito (ou fará depois).

Este talvez seja seu elenco mais esplêndido — e por incrível que pareça, pois Tarantino tem justamente a escolha do elenco como uma de suas melhores qualidades. Leonardo DiCaprio é um ator simplesmente estonteante: ele é tudo e mais um pouco em cena. Que espetáculo: seu Rick Dalton é formidável, uma de suas melhores interpretações no cinema. E os coadjuvantes também brilham: “o que é” Margaret Qualley? Um “escândalo” sua Pussycat. Não me lembro de tê-la conhecido antes: muito prazer. E ainda surge uma Julia Butters que assombra como a atriz mirim que contracena em pé de igualdade com DiCaprio: a dupla protagoniza algumas das melhores cenas do filme, muito pelo fluido e transbordante talento de ambos.

Você olha pra cara do Brad Pitt e pensa: “tá envelhecendo mal”… até que ele tira a camisa… Mas Pitt sempre foi muito mais que bonito e, tal como DiCaprio, aqui também aparece em um de seus melhores papéis. Embora possa parecer que seu personagem Cliff Booth fique no meio do caminho, é esta justamente sua função: ser o coadjuvante, o dublê que encara qualquer desafio por um grande ator, seja uma cena extremamente perigosa de um grande filme, seja apenas levá Rick de carro para o set de filmagem. E ainda tem um encontro inimaginável com Bruce Lee: talvez os fãs do astro não tenham curtido muito a imagem que Tarantino construiu, mas é ótima a quase patética sequência de luta entre Lee (interepretado por Mike Moh) e Cliff.

É preciso destacar (mais uma vez) Margot Robbie. Já falei mil vezes e repito mil vezes: Margot Robbie é uma das melhores atriz dessa geração que agora está “circa” 30 anos. Esteja ela como protagonista ou, como nesse caso, quase sem falas, coadjuvantésima. Linda, deslumbrante, atriz incrível. Sua cena (desde a entrada no cinema) assistindo a si mesma na telona — e a escolha de Tarantino por preservar “a original” na tela — é de chorar. Mas todos os detalhes — seus momentos de hesitação, o óculos no cinema, os pés sujos, até o seu dormir — tudo nos remete à emoção. E Tarantino foi incrível em não nos entregar um cruzamento óbvio entre os personagens, talvez a expectativa natural de quem assiste. Delicioso.

Last but not least: dei uma choradinha básica na hora que Luke Perry entra em cena. Mas nem tudo são flores: sem colocar em dúvida o reconhecido talento de ambos, Dakota Fanning e Al Pacino são totalmente desnecessários. Ambos não fariam a mínima falta ao filme, que poderia ter uns 15min a menos também — me deu a impressão que Tarantino não conseguiu excluir nada do que filmou, mas é provável que houvesse muito mais ainda…

Quanto ao final, repito o que disse acima: é interessante que você saiba pelo menos “o básico com fritas” sobre Sharon Tate para entender a quase “alegoria” que Tarantino escolheu para retratar uma dura página da violência americana (e para talvez vencer as resistências de Roman Polanski, não sei dizer), a fatídica noite de 08 de agosto de 1969. Seja como for, é uma bela homenagem a Sharon e ao cinema como indústria de pequenas carícias ou porradas na alma: há muito de afeto neste novo e excelente filme de Quentin Tarantino. Recomendo imensamente.

Tommy Beresford

~ por Tommy Beresford em agosto, 21 2019.

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