[Resenhas] Tropa de Elite

Eu estava na dúvida se gostaria mesmo de assistir a Tropa de Elite (cuidado, não é este link de rafting…). Mas como ontem a promoção era boa (R$ 6 a inteira) e como eu acho que a primeira vez de qualquer filme feito para o cinema tem que ser na sala escura, fui ver.

Eu chamaria de filme de ação, apesar de pontuado pelos pensamentos do Capitão Nascimento. Cinematograficamente falando, é um ótimo filme. Não acho que seja uma obra prima. Há problemas, até mesmo na trilha sonora (onde já se viu jovens antenados dançando ao som de “Shine Happy People” do REM em 1997 ?) mas que não comprometem o filme “enquanto” obra de cinema.

O elenco é irregular. Fiquei impressionado com alguns atores que eu já conhecia (e gosto) e que achei que soam falsos (como Caio Junqueira no papel de Neto). Também não gostei muito das cenas de sala de aula, Fernanda Machado (como Maria) e André Ramiro (como André Matias) não me passam firmeza: e os três citados, Caio, Fernanda e André, fazem três papéis importantes no filme.

Marcello Escorel mostra o talento de sempre como Coronel Otávio. E Maria Ribeiro, tão doce na novela atualmente em cartaz na Record, mostra força e (me) surpreende como Rosane, esposa do Capitão Nascimento. Paulo Hamilton está muito bem como o Soldado Paulo, tal como Thogun no papel do mecânico Tião.

Há dois grandes destaques pra mim, grandes mesmo. O primeiro é do excepcional Milhem Cortaz, como Capitão Fábio, talvez a melhor interpretação do filme: é daquelas atuações que fazem o espectador realmente acreditar que ele é realmente aquilo que está vivendo. Muito bom.

E, sem dúvida, Wagner Moura. Está esplêndido como Capitão Nascimento, um papel muito difícil e que sem dúvida deve ter mexido muito com o ator durante toda a produção do filme.

Quanto às questões essenciais…

– Não, não achei o filme fascista. O fascismo, como já foi dito (acho que foi o Zuenir Ventura) está em alguns personagens e na reação (de parte, apenas parte) da platéia, mas não o filme em si, muito menos era essa a intenção do diretor.

– Seja como for, o filme é forte o suficiente para gerar polêmica e discussões, mas acho que retrata o que sabemos que existe, ainda que de forma ficcional.

– Aliás, assisti ontem parte da entrevista do diretor José Padilha ao Roda Viva da TV Cultura e ele explicou com bastante clareza muitos detalhes da filmagem. Inclusive a “participação” dos elementos do Bope e dos moradores dos morros onde a filmagem foi feita. Assistindo de longe, eles de vez em quando pediam à produção para falar com o diretor, a fim de “consertar” algumas coisas: “olha só, quando você queimar o cara no microondas, tem que fazer assim, assim, assado” ou “na hora do saco na cara, tem que botar sacos no chão pra não marcar o joelho do cara, pra não ficar marcas”…

– Voltando à platéia: na seção em que assisti se comportou muito bem (exceto um atrás de mim que, já tendo visto o filme em DVD pirata, cismou de “narrar online” o filme para a esposa: “olha, agora vai acontecer isso, isso e isso”. Levou vaia).

– A reação da tal parte da platéia que grita “caveira” e tudo mais, mesmo deplorável, é totalmente compreensível. Preciso explicar ? E daria uma tese de mestrado falar disso aqui, mas fiquemos com “toda ação gera uma reação”, e as ações da bandidagem geram acúmulo de muitas reações que muita gente não sabe – até por medo – como manifestar: na sala escura, ninguém está vendo…

– Mas quando as pessoas começam (eu disse começam ?) a imitar cenas de filmes ou de TV ou criar novos ídolos de índole duvidosa (como o Capitão Nascimento), é porque as coisas vão mal…

– Ridículo será se o filme virar seriado de TV. Nada a ver.

Há muito mais o que falar. Agora finalmente vou ler os textos que escreveram a respeito e depois, quem sabe, volto a escrever a respeito.

Tommy Beresford

~ por Tommy Beresford em outubro, 09 2007.

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