[Resenhas] Questão de Tempo

questao de tempo

Não se deixe enganar… por alguns críticos profissionais que, como costumo dizer em algumas de minhas humildes resenhas, cada ano que passa parecem que não gostam mais de nada. Não se deixe enganar… pelo trailer, pelo cartaz e nem mesmo pela primeira meia hora de “Questão de Tempo”, que parece indicar que o filme será uma comédia romântica sem grandes pretensões. Não se deixe enganar… pelo tempo, pela aparente fixação que Chronos tem por nos fazer pensar que o que passou não nos serve mais ou não tem mais volta. Se não somos como o protagonista ruivo do filme, ao menos não podemos esquecer que nascemos com a capacidade de refletir sobre o que fizemos no passado para tentarmos decidir melhor nosso futuro — a curto ou longo prazo.

Assista com cuidado a este belo filme de Richard Curtis, roteirista de “Quatro Casamentos e um Funeral” e “Um Lugar Chamado Nothing Hill”. Deixe-se envolver, deixe que o filme se derrame sobre você, com uma simplicidade tamanha. E que ele nos faça pensar… Se tivéssemos uma máquina do tempo, quantas vezes será que voltaríamos para mudar coisas, e para quais épocas ? Será que nosso ‘revisionismo’ seria tamanho a ponto de gerar muitas idas e vindas inicialmente e, com o passar do tempo (ops), isso se mostraria cada vez menos necessário ? Será que estaríamos preparados para o desconhecido, para o medo, para o amor, mesmo sabendo que poderíamos voltar atrás e reconstruir uma situação ?

Tim, personagem de Domhnall Gleeson (apaixonante trabalho deste jovem ator pouco conhecido no Brasil), tem esse poder mágico, herdado dos homens de sua família, e ele o descobre bastante jovem, quando recebe a inacreditável notícia de seu pai (Bill Nighy, perfeito). Mas talvez sua maneira peculiar de enxergar a vida (somada à fleuma do humor britânico — inglês, escocês, não importa –, um dos pontos altos do roteiro) e a maturidade que os acontecimentos da vida (real) vai trazendo moldam seu comportamento e sua vontade de achar que é necessário recomeçar. E, claro, nem tudo pode ser refeito…

Além dos ótimos diálogos, há sequências deliciosas embaladas quase que apenas pela excelente trilha sonora, como a da passagem do tempo de Tim e Mary (Rachel McAdams e sua inacreditável franjinha) nas idas e vindas do metrô, sem falar no melhor casamento cinematográfico do ano. Nada de esperar, portanto, (ou comparar com) “Efeito Borboleta” ou “Feitiço do Tempo”: nada a ver. Apesar da ficcional viagem pelo passado, não espere mágicas e efeitos especiais: esqueça qualquer “viagem fantástica”. Pense num filme simples, agradável de se assistir, que emociona sem apelar: chorei baldes.

Para minha alma sempre aberta ao repensar, gratíssima surpresa: um drama do cotidiano excelente, dos melhores filmes do ano, daqueles que, sempre que for reprisado na TV, teremos vontade enorme de rever. Recomendo.

Tommy Beresford

About Time

~ por Tommy Beresford em dezembro, 23 2013.

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