[Resenhas] Mesmo Se Nada Der Certo
Preciso confessar algo muito importante: sempre detestei Keira Knightley. Não me perguntem o motivo: não sei. E olha que é muito difícil eu detestar alguém, mesmo que seja um artista de cinema. Não é, porém, inédito para mim: eu também detestava Kate Winslet até que a vi em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças“… As coisas mudam quando você se depara com um grande filme, até mesmo a implicância com certo artista. Depois de tantos anos, eis que me apaixonei por Keira Knightley desde a primeira cena de “Mesmo Se Nada Der Certo”.
Foi curioso também assistir a “Mesmo Se Nada Der Certo” logo após ter revisto “Nova York, Eu Te Amo”: tal como a colcha de retalhos deste belo filme de 2009, o longa de John Carney que chegou aos cinemas brasileiros em setembro de 2014 acaba sendo uma ode à metrópole mais amada dos Estados Unidos, numa bela união de música e poesia ao cotidiano conturbado da cidade. Um exemplo é a ótima cena em que os protagonistas dividem um mesmo fone de ouvido e, ao som de um clássico com “As Time Goes By” ou de uma das canções mais legais de Stevie Wonder, perambulam pela cidade alheios ao frenesi barulhento do trânsito e do vai e vem dos transeuntes. Mas esta é apenas uma das muitas sequências deliciosas do filme.
Interpretando praticamente uma caricatura de si mesmo, Adam Levine (vocalista do Maroon 5) é uma boa surpresa como ator e, claro, manda muito bem nas canções, todas ótimas: a trilha sonora original é maravilhosa, e ainda conta com inserções de clássicos americanos, entre eles os já citados acima. Knightley está mesmo apaixonante, totalmente à vontade como Gretta, inclusive cantando. Em papéis menores, Catherine Keener (indicada ao Oscar por “Capote” e “Quero Ser John Malkovich”), Hailee Steinfelf (que ganhou vários prêmios e uma indicação ao Oscar por “Bravura Indômita”), James Corden, Cee Lo Green, todos estão ótimos. Mas o destaque é o sempre excelente Mark Ruffalo, que mais uma vez não decepciona: está excepcional como o produtor Dan, e nos faz mesmo acreditar em sua relação visceral com a música em meio à sua vida conturbada e quase sem perspectivas.
O filme cativa desde o primeiro minuto. A cena inicial é apresentada inicialmente sob a perspectiva de Gretta mas, pouco depois, temos a ótica de Dan, quando um novo arranjo do que era uma ainda claudicante canção se torna vivo e quase palpável para o espectador: só esta sequência já valeria o ingresso. As cenas de composição e de gravação das canções nos dão a impressão que o elenco realmente estava muito à vontade sob a direção de Carney. A música, tanto quanto os personagens de carne e osso que a executam, é totalmente protagonista do longa, transbordando da tela para levar aos espectadores a certeza de seu poder transformador.
As histórias entrelaçadas dos personagens de Ruffalo e Keira dão total sentido ao título original do filme, “Begin Again”. E uma das maiores qualidades do ótimo roteiro é não ter tratado os três protagonistas como descerebrados ou implausíveis: são todos de carne e osso e, que bom, seres pensantes. Um filme simples, sem muitos parangolés e, felizmente, sem os esperados clichês das histórias de amor desfeito e reconquistado: nada é previsível, não há grandes transformações (a não ser as internas), e tudo isso é muito bom, inclusive por não optar por um gran finale açucarado.
Do mesmo diretor, o simples e inesquecível “Apenas Uma Vez” (Oscar de Melhor Canção) foi um de meus filmes favoritos de 2008, e “Mesmo Se Nada Der Certo” sem dúvida já entrou na minha lista de melhores de 2014. Tomara que John Carney não demore mais seis anos para me presentear com uma nova joia. Recomendo. Eleve-se: leve seu corpo e saia com sua alma leve.
Tommy Beresford
Um dos melhores filmes de 2014. Forte candidato ao Oscar.
Eu gostei Mr. Beresford, Tommy. Pero no mucho…
Voltei pois esqueci de dois comentários importantes: #ComoAssim você não gostava de Keira Knightley? Isso é sério? Você viu “Orgulho e Preconceito”, “Anna Karenina” e – o principal – “DESEJO e REPARAÇÃO”? Quedê tua “alma cinéfila” que não detecta um talento deste?! o.O
Segundo: #ComoAssim você não gostava de Kate Winslet? Isso é sério? Você viu “Razão e Sensibilidade”? Sim, só para ficar com um filme de ANTES de “Brilho Eterno…”. Pra mim ela deu SHOW em “O Leitor” e “Foi Apenas Um Sonho”…