[Resenhas] Sniper Americano / Invencível
A última vez que fiz uma resenha juntando dois filmes foi quando escrevi sobre os díspares “Juno” e “Elizabeth – A Era de Ouro”, nos idos de fevereiro de 2008. Sete anos depois, a ideia me veio à mente com “Sniper Americano” e “Invencível”, ambos “filmes de guerra” mas também bem diferentes, a começar pela época em que os acontecimentos se desenrolam. Os dois concorrem ao Oscar 2014/2015 em diversas categorias.
A história contada em “Sniper Americano” é real. Das 255 mortes efetuadas pelos Navy Seals durante a Guerra do Iraque, 165 foram atribuídas a um único homem: Chris Kyle, vivido com enorme dignidade por Bradley Cooper, que concorre pelo terceiro ano consecutivo ao prêmio de melhor ator da Academia. O filme tem excelente direção de Clint Eastwood, roteiro de Jason Hall baseado no livro escrito pelo próprio Kyle ao lado de Scott McEwen e Jim DeFelice, e ótima fotografia e edição.
O filme pode até ser interpretado como uma crítica, mas é preciso algum esforço: no fundo, a guerra está ali, exposta, com todas as suas mazelas de campo de batalha ou fora dele, mas não há o questionamento real de sua necessidade ou existência. Curiosidade: a Warner Bros. anunciou ter adquirido os direitos do livro em maio de 2012, bem antes, portanto, do acontecimento trágico com o qual o filme termina.
O longa teria a direção de Steven Spielberg, que deixou a produção por conta de problemas com o orçamento, quando Eastwood assumiu a empreitada, que acabou indicada a seis estatuetas: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado, Edição, Edição de Som e Mixagem de Som). Tem poucas chances em todas elas. No fundo, é o típico filme que os americanos gostam, mas somente a Academia deu muita bola: nas demais premiações dentro e fora dos EUA, foi pouco indicado e pouco premiado.
É Angelina Jolie quem dirige “Invencível”, um filme também baseado numa história real, longo e mais uma vez difícil, como já o fora seu “Na Terra de Amor e Ódio”. A história de Louis Zamperini foi dividida por Jolie em três atos: a infância e adolescência quem que se transforma em corredor e vencedor olímpico, depois os 47 dias à deriva por seu avião ter caído no Pacífico em uma missão na Segunda Guerra e, finalmente, todo o seu sofrimento em campos de prisioneiros de guerra no Japão. O filme é muito bem sucedido em todas essas etapas, principalmente por conta de seu bom roteiro: baseado em livro de Laura Hillenbrand, foi escrito por Richard LaGravenese e William Nicholson com a luxuosa revisão de Joel e Ethan Coen.
Apesar de concorrer apenas a três prêmios menores no Oscar (Fotografia, Edição de Som e Mixagem de Som), “Invencível” não pode se queixar: recebeu diversas indicações a outras premiações, boa parte por conta da performance de Jack O’Connell, que aos 24 anos não entrou na lista do Oscar mas levou simplesmente 11 prêmios de ator revelação do ano. Mas é preciso citar Domhnall Gleeson (o Bill Weasley da saga “Harry Potter” e que poderá ser visto em breve em “Star Wars: The Force Awakens”), com ótima atuação: uma pena apenas que o desfecho de sua história não aconteça quando o filme entra na fase do campo de prisioneiros.
Os 137 minutos de “Invencível” podem parecer cansativos para alguns, e talvez falte alguma costura às histórias dos companheiros de Zamperini, mas a história do filho de italianos emociona e o sofrimento de guerra alcança sem exageros o espectador. “Sniper Americano” é mais enxuto, porém mais ufanista, uma típica história de super herói americano, embora embalada para presente com a bela direção de Eastwood e as belas atuações de Cooper e Sienna Miller.
Acaba sendo impressionante como Hollywood continua a produzir e valorizar tantos e tantos filmes onde a bravura americana é o enredo mais forte. Talvez por não glamourizar tanto este “papel de pais do mundo” é que eu tenha preferido “Invencível”, mas você deve assistir aos dois e, se quiser, escolha seu favorito.
Tommy Beresford
Os dois são bons, dentro de seus questionamentos.