[Resenhas] Para Sempre Alice

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Hoje fala-se muito em Alzheimer, e alguns se perguntam se, nas gerações anteriores, os idosos não sofriam deste “mal moderno”. Na verdade, hoje se vive muito mais, a expectativa de vida é bem maior, então chegar aos 70, 80 anos é muito mais fácil que há décadas atrás. Desnecessário dizer que o mal já existia, e aquilo que chamávamos (às vezes com desdém, pena ou enxergando como uma realidade longínqua) usando palavras como “senilidade” — ou, mais popularmente,”caduquice” — é hoje muito mais comum, muito mais acompanhado mas, infelizmente, ainda sem cura.

O fato é que, em geral, é um doença que atinge a população mundial tardiamente: raramente acomete pacientes com menos de 50 anos. Mas este é justamente o caso da protagonista de “Para Sempre Alice”, do diretor Richard Glatzer, que faleceu em março de 2015 de outra enfermidade grave e ainda sem cura (ELA, Esclerose Lateral Amiotrófica). O livro no qual o filme se baseia foi lançado no Brasil pela Nova Fronteira e é de autoria de Lisa Genova, doutora em neurociência por Harvard, mas que tem como segunda paixão a literatura. Lisa escreveu duas ficções baseadas em casos médicos: “Nunca Mais, Rachel” (também da Nova Fronteira), que conta a história de uma mulher após um acidente cerebral, e “Still Alice”, de 2007, que conta a história transformada agora em longa, de uma mulher diagnosticada com Alzheimer precoce.

Brilhante professora e palestrante de Linguística, Alice descobre sua doença antes dos 50 anos e, a partir daí, começa a tentar “vencê-la” criando para si mesma atividades e métodos de lidar com o presente já titubeante e com o futuro incerto. Num ano de grandes atuações femininas e em uma de suas melhores interpretações, Julianne Moore levou merecidamente o Oscar de Melhor Atriz de 2014/2015 no papel de Alice. Minha favorita era Felicity Jones (por “A Teoria de Tudo”), mas não havia como errar: antes do Oscar, Julianne levou os três principais prêmios (Screen Actors Guild, Globo de Ouro (Drama) e BAFTA) e mais uma dúzia de prêmios num ano em que ela também vinha forte com “Mapa Para as Estrelas”, com o qual concorreu em Comédia/Musical ao mesmo Globo de Ouro 2014/2015 e pelo qual já levara o prêmio de interpretação feminina do Festival de Cannes.

“Para Sempre Alice” não chega a ser espetacular, mas a história é tocante: o longa emociona o espectador em vários momentos graças à atuação sem exageros de Julianne e à direção enxuta de Glatzer. Dá vontade de ler o livro. Destaque também para a boa atuação de Kristen Stewart, uma das filhas de Alice e John, vivido por Alec Baldwin.

A pergunta que fica para o espectador é a óbvia: como lidar com uma doença inesperada, ainda mais uma que não definha seu corpo mas enfraquece sua mente? Alice era uma renomada e ativa profissional, ainda na flor da idade: como lidar — e tão precocemente — com a dependência de outras pessoas? Como enfrentar as situações que, até pouco tempo atrás, eram tão banais e agora se tornaram inesperadas, surpreendentes ou desesperadoras? Será possível responder a essas perguntas enquanto estamos sãos ?

Tommy Beresford

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~ por Tommy Beresford em março, 12 2015.

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