[Resenhas] Frozen 2

Que “Frozen – Uma Aventura Congelante” é um dos clássicos da Disney no século XXI, todo mundo já sabe e (lamento informar aos chatos de plantão) não é “negociável”: a aventura protagonizada pelas irmãs Anna e Elsa é o grande ápice da Disney depois de tantos filmes de animação excelentes, outros (poucos) nem tanto, vinte anos depois da tríade de ouro do renascimento (“A Bela e a Fera”, “Aladdin” e “O Rei Leão”). O longa de 2013, lançado em janeiro de 2014 no Brasil, tinha todos os ingredientes de um filme de sucesso. Daí a expectativa com sua continuação de 2019 (lançada no Brasil também em janeiro do ano seguinte), que dava margem a um certo receio de que decepcionasse. Por que, meu Deus, porcausdiquê essa mania de achar que toda continuação de um filme de grande qualidade pode ser uma catástrofe? Não sei, mas muita gente pensa assim.

E lá fui eu pro dia da estreia, tendo feito questão de não ler (como sempre) nadica a respeito para adentrar de cabeça em toda aquela nova história. Para minha felicidade, “Frozen 2” é espetacular. Por muito pouco não está no patamar do original. Tem uma história tão rica quanto, ainda que sem as reviravoltas que tanto nos surpreenderam. As canções continuam sedutoras, ainda que algumas (especialmente as primeiras apresentadas na primeira metade) lembrem as melodias das que estão até hoje gravadas nas mentes de crianças e adultos. Ainda escrevo com as emoções atiçadas, poucas horas depois de assistir, mas talvez somente estes “ainda que” da oração anterior (e alguns poucos outros) pudessem fazer com que este também não seja um clássico definitivo. Eu disse “talvez”… Afirmo, com toda sinceridade, que gostei tanto deste segundo filme que, ao escrever estas mal traçadas linhas, tudo me remete à saga “Toy Story”, onde o filme 2 me parecia um clássico definitivo, que entrou “dicumforça” em minha lista de filmes favoritos forever até que veio o “Toy Story 3” e… cataploft, explosão total.

“Frozen 2” traz (graças!) o mesmo elenco delicioso com Elsa, Anna, Kristoff, Olaf, Sven, os trolls – seis anos depois no tempo da vida real e nas histórias dos personagens, agora mais maduros (será?). Não contarei detalhes da história mas, como há flashbacks, há a participação importante dos pais das princesas, o Rei Agnarr e a Rainha Aduna. Além deles, outros personagens bem interessantes somam-se ao grupo. O elenco de dublagem se mantém quase o mesmo, tanto na versão original (com as incríveis Kristen Bell e Idina Menzel) quanto na versão brasileira, embora Rei e Rainha sejam agora dublados por Alfred Molina e Evan Rachel Wood, respectivamente.

O grupo de dublagem nacional agora ganhou a voz de Myra Ruiz, mas o elenco principal ainda manteve Taryn Szpilman como Elsa e Fábio Porchat como Olaf, brilhantes mais uma vez. Aliás, ainda que um pouco mais reflexivo, Olaf ganhou ainda mais humor, e é contagiante ver crianças e adultos caindo na gargalhada com as tiradas do boneco de neve. Porchat já acertara no tom de Olaf no filme anterio; no atual, protagoniza sem dúvida uma das melhores cenas do longa, ao “recontar” a história do primeiro filme.

A trilha sonora, como sempre, tem momentos que impressionam (como o solo de Kristoff em “Lost in the Woods”, quase uma paródia — deliciosa — daqueles clipes surreais dos anos 1980, com direito a coro atrás e tudo). O momento musical maior sem dúvida era para ser “Minha Intuição” (“Into the Unknown”), originalmente interpretada por Panic At the Disco e que pode ser lembrada nas indicações ao Oscar. Muito boa e com lindos vocais da cantora Aurora, ela tem a mesma “estrutura de hit” da incrível e oscarizada “Let It Go”: é o tipo de canção que funciona no filme e fora dele, só não deu tanta sorte por não ser tema de um momento realmente espetacular do longa (como a “libertação” de Elsa no primeiro filme). Falta (por pouco) o “poder de fogo” da premiada canção anterior. Talvez por tudo isso, a incrível “Vem Mostrar” (“Show Yourself”) acabe sendo a canção que roube o protagonismo: é o momento-chave de “Frozen 2”, finalmente a grande catarse, e abrilhanta uma das sequências mais incríveis e fortes de todo o filme. De chorar.

A confecção técnica é um desbunde: tudo é ainda mais incrível em “Frozen 2”, numa fotografia simplesmente estonteante. O 3D torna tudo mais mágico ainda, mas acredito que o IMAX faça tudo ficar simplesmente deslumbrante. No mais, a história ganha um viés mais sério e, ainda que haja magia o tempo todo que nos leva a grandes viagens, há agora um tom pé-no-chão que admiro muito, mesmo em meio a toda a exuberância. Difícil explicar, mas a história de “Frozen 2” é mais impactante: o roteiro de Jennifer Lee, também diretora (ao lado de Chris Buck) é um dos maiores trunfos do filme, é certeiro em como aborda a jornada de descoberta do passado sem tornar maçante a caminhada por explicações de duas mulheres agora mais fortes e plenas entre metáforas, buscas e muita magia. “Frozen” era totalmente uma história do presente de Arendelle, “Frozen 2” traz o seu passado: em ambos, o amor é guia, com força e emoção.

“Frozen” continua sendo um clássico. Mágico, forte, exuberante, de tirar o fôlego, “Frozen 2” é incrível e necessário: um filme para todas as idades que merece todo o sucesso que alcançar, para ser assistido, tanto quanto o primeiro, muitas vezes durante a vida. Não percam.

Tommy Beresford

~ por Tommy Beresford em janeiro, 03 2020.

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