[Resenhas] Comer, Rezar, Amar
É claro que nem toda história de amor é embalada por Bossa Nova (por sinal, salve Vinicius de Moraes !). É claro que, ao sair do cinema, você não vai embarcar com Julia Roberts nem Javier Bardem numa canoa para uma ilha deserta. Mas é bem possível — e eu vou torcer bastante — que você saia diferente da sala escura e encare o que te cerca de outra forma — seja ela qual for. Se atualmente você já nem mais consegue olhar nos olhos ou pelo menos observar pessoas e situações com mais atenção, cuidado ou carinho, talvez você passe a conseguir, nem que momentaneamente. Se você já o consegue, quem sabe não se sinta desconfortável pelo fato de os que te cercam não o façam também.
Não, não: “Comer, Rezar, Amar” não é uma obra-prima cinematográfica. Mas é um ótimo filme, que faz bem a quem assiste. Uma obra que pode ser entendida como uma soma de quatro partes ambientadas em culturas bem diferentes pode facilmente se tornar irregular ao ir para as telonas, e talvez seja o que acontece com o filme em alguns momentos. Mas a produção como um todo é bastante interessante: é bom avisar que não é exatamente uma comédia romântica (alguns podem se sentir atraídos a assisti-lo pensando nisso): faz pensar, refletir, sem cair no caminho fácil da “obra de auto-ajuda”. E (literalmente) viajar: belas imagens de lugares dos sonhos para muita gente.
Logo de cara o filme me conquistou porque até evita uma parcela dos muitos clichês repetitivos dos filmes hollywoodianos: tudo tem mais cara de “real”. Difícil explicar porquê. Claro que, ao ir para outras culturas, fica mais difícil escapar do lugar comum: acho que o filme dribla bem este problema, apesar dos protestos, como fiquei sabendo depois, dos italianos. Mas é justamente na Itália que “Comer Rezar Amar” é (mais uma vez literalmente) saboroso: ao deixar sua vida em Nova York e viajar para Roma, a protagonista Liz protagoniza cenas realmente de dar água na boca. Na Índia, a trama é um pouco mais confusa (mas tem o melhor personagem, com show de interpretação de Richard Jenkins), mas volta a seduzir (outra vez literalmente) quando Bali é a ambientação.
Sinto-me tranquilo em ter assisito sem ter lido o livro antes, mas agora já escrevo com quase um terço do livro lido. Já percebo que o filme simplificou um pouco as coisas: a personagem de Viola Davis, por exemplo, engloba várias pessoas citadas na trama, e os gêmeos viraram uma só pessoa na tela. Apesar disso, noto que o diretor Ryan Murphy procurou ser bastante fiel a algumas (eu disse algumas) passagens-chave do livro.
O elenco de apoio, por sinal, é correto, a fotografia é caprichada e nada se mostra forçado ou incompreensível. Mas a força do filme vem mesmo do elenco principal. Sempre fui apaixonado por Julia Roberts, sempre, desde… bem, não me lembro se antes de “Uma Linda Mulher”, mas é possível. Filmes como “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Noiva em Fuga”, “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, “Closer” e o oscarizado “Erin Brockovich” e tantos outros (me) provaram que a bela mulher era também uma grande atriz, apesar de alguns narizes torcidos de parte da crítica. Depois de uma participação curta mas ótima em “Idas e Vindas do Amor“, Julia é novamente protagonista e está excelente em “Comer, Rezar, Amar”, não somente por sua própria força dramática mas também pelo auxílio luxuoso do excelente James Franco, os já citados Richard Jenkins e Viola Davis (ambos como sempre brilhando… finalmente Viola Davis de novo nas telonas, já não era sem tempo)…
E, claro, o grande Javier Bardem, um ator de primeira, que brilha independente do tamanho do papel. Julia e Javier são apaixonantes, ninguém há de negar. Javier consegue se destacar mesmo sendo escada para Julia e mesmo falando um português tacanho (a única derrapada lamentável do filme… e é melhor não explicar muito). Sim, há Brasil na trama, não somente na trilha sonora que contém o já citado Vinicius em parceria com Tom Jobim na voz de Bebel Gilberto como também “outro Gilberto”: João, claro.
Se você já leu o livro, corra para o cinema lembrando sempre que livro é livro, filme é filme (e não esqueça de levar o lenço), ficção é ficção e realidade é realidade. Se ainda não leu, faça como eu: aproveite para ler depois. O que você não pode deixar é de assistir ao filme, de coração aberto e sem pré-conceitos. Depois vá direto comer (como eu fiz) uma boa macarronada ou apenas praticar o bel far niente, seja para meditar, rezar do seu jeito ou simplesmente não pensar em nada. Amar ? Nem é necessário indicar.
E voe.
Tommy Beresford
Eat, Pray, Love
http://www.imdb.com/title/tt0879870/
Site oficial
http://www.sonypictures.com.br/Sony/HotSites/Br/comerrezaramar/
Bebel Gilberto – Samba da Benção
http://www.youtube.com/watch?v=fl2WJdn3qOE
João Gilberto – ‘S Wonderful
http://www.youtube.com/watch?v=ORNamxt1sSk
Prêmios Julia Roberts
http://www.imdb.com/name/nm0000210/awards
Ontem assisti “Comer, Rezar, Amar” o filme é ótimo, mas deveriam ter usado um ator brasileiro, aquele sotaque “portunheis” fico estranho.
Adriele Avila said this on outubro, 19 2010 às 9:36 am |
Difícil escrever sobre este filme, amigo. Assisti ontem, incrivelmente pela primeira vez, sozinha no cinema. De uma série de questões pessoais que emergiram por causa desta situação específica somadas à história na telona, resultou uma choradeira a qual não estou acostumada ao ir ao cinema – nem no “recesso do lar” eu choro tanto assim!
Não posso dizer que o filme seja uma beleza, mas a fotografia o é, sem dúvida. Também adoro Julia Roberts e, apesar de concordar com a crítica do Ewald de que a história de Liz é profunda como um prato com água, acabo por gostar da protagonista em sua jornada pessoal – talvez justamente por ser interpretada por Julia.
Richard Jenkins: esse é O CARA, de verdade. Foi pouco, e ele merece protagonistas inteiros!!!
Javier Bardem: o que dizer? Delícia, em todos os sentidos… 🙂
‘S Wonderful na voz de João Gilberto: magnífico, preciso ouvir isso de novo…
Em resumo, vou ler o livro e recomendo que assistam ao filme dessa forma: sem PRÉ-conceitos como eu fui. Apenas curtam!
Maria Alice Miller said this on novembro, 04 2010 às 7:27 am |