[Resenhas] O Grande Gatsby (2013)
“O Grande Gatsby” já teve várias versões cinematográficas, a começar por uma de 1926 (com Warner Baxter e Lois Wilson), passando pela de 1949 (com Alan Ladd e Betty Field) e até uma em 2000 para a TV com Mira Sorvino. Mas a mais famosa sem dúvida foi a de 1974, um grande filme com Robert Redford e Mia Farrow. Como todos já sabem, eu odeio comparações, pois acho que cada obra é uma obra, e no caso da versão 2013 de Baz Luhrmann para a obra de F. Scott Fitzgerald, nem há como comparar duas obras tão, mas tão díspares.
Inevitável, porém, é comparar os atores que ficaram com os papéis principais. Vindo de uma brilhante interpretação em Django Livre, Leonardo DiCaprio herdou o papel inesquecível de Robert Redford: embora DiCaprio seja um ator mais versátil que Redford, não consegue dar a Jay Gatsby o brilho que o (agora maracujado) galã dos anos 70 proporcionou. Da mesma forma, Carey Mulligan é excelente atriz, mas ainda assim Mia Farrow fica na dianteira com sua Daisy Buchanan tão “aérea” quanto atenta: Mulligan passeia entre o tédio e a incredulidade com pitadas de deslumbramento, mas ainda assim constrói a personagem com dignidade, sem comprometer. Entre Tobey Maguire e Sam Waterston, fico disparado com o segundo, ou seja, três a zero para o filme de 1974. Somente Joel Edgerton é páreo para Bruce Dern: Edgerton rouba brilhantemente a cena como um Tom Buchanan intenso na medida certa. Vale a menção a Elizabeth Debicki, ainda que sua Jordan Baker pareça meio perdida na trama.
O fato do diretor ter enfatizado Tobey Maguire (não havia outro ator?) como o real protagonista do filme — com excesso de explicação focado mais na narrativa do que nas ações — não é o principal calcanhar de aquiles da produção atual: o problema mesmo foi Luhrmann ter criado dois filmes em um. O primeiro é feérico, exagerado, moulinrougiano demais, com uma trilha moderna (de Jay-Z) que, embora com algumas ótimas canções aqui e ali, sinceramente não se justifica. Em alguns momentos, a ambientação da era do jazz que Fitzgerald faz com tanto cuidado e detalhe no livro vira quase um show circense de horrores na versão de Luhrmann. Já o “segundo filme”, a partir da clássica “cena do calor ainda na mansão”, é mais denso que tenso, com excelentes atuações e direção, num clima que (finalmente) valoriza o excelente texto. A sequência seguinte, em que DiCaprio, Mulligan e Edgerton se degladiam no hotel — em meio a ventiladores, gelo e cigarros — é justamente a que vale o filme. Daí por diante, o filme fica bem mais palatável: a direção de Luhrmann fica mais focada na excelência dos atores.
Embalados por um bom roteiro, é o elenco, portanto, que salva “O Grande Gatsby” versão 2013 de ser apenas lembrado pelo exagero — falo isso “na boa”, pois sou fã de dois dos filmes do diretor, o surpreendente “Moulin Rouge” de 2001 e o delicioso “Vem Dançar Comigo” (“Strictly Ballroom”, 1992). Ficaram embaladas demais para presente a crítica ao conservadorismo da sociedade, a resistência às mudanças e a decadência dos valores. Talvez a intenção do diretor, como todo o exagero, fosse justamente enfatizar a crítica, mas tudo “grita” tanto que o objetivo não é alcançado. No fundo, falta um ênfase maior na descrição do “sonho americano” (e de suas falhas) que transformaram o livro de Fitzgerald (anos depois do lançamento) num clássico. Talvez por conta da uma direção de arte “berrante” (os figurinos são bem mais interessantes que a cenografia), tudo parece mais “ensolarado”, mesmo com muitas cenas noturnas — aliás, o efeito 3D enriquece, mas é dispensável.
Seja como for, é um bom filme. Como fiz recentemente, recomendo assistirem à obra de 1974 alguns dias antes em DVD. Depois, corram aos cinemas e aproveitem.
Tommy Beresford