[Resenhas] Uma Nova Amiga
Em vários momentos o espectador pode encontrar traços de Almodóvar no novo filme de Françoise Ozon, “Uma Nova Amiga”. Mas não estamos falando necessariamente dos aspectos de comicidade do diretor espanhol, e sim nos conflitos em torno de comportamento e sexualidade, e até em algumas escolhas de planos de câmeras e fotografia. Há uma curiosidade: “Uma Nova Amiga” é baseado num conto de Ruth Rendell, que já inspirara também um filme de Almodóvar, “Carne Trêmula”. Mas as coincidências param por aí, e a versão do diretor francês para “The New Girlfriend” de Rendell nem mesmo foca no suspense característico da escritora inglesa.
Ozon é um diretor que gosta do cinema a ponto de lançar um filme atrás do outro, quase sempre acima da média. Entre suspense, drama e musical, já nos ofereceu obras dignas de serem lembradas como “Oito Mulheres”, “Dentro da Casa”, “Swimming Pool”, “Sob a Areia”, entre outras. Ele nos “engana” no início, pois nos faz pensar que se tratará de um thriller em torno da morte de uma das personagens iniciais da trama. Mas a narrativa segue leve, ainda que por vezes sombria, e ainda que haja uma tensão sexual na relação entre o viúvo, David, que tem hábitos no mínimo curiosos, e Claire, a melhor amiga (e casada) da falecida.
O diretor francês não erra a mão justamente porque preferiu que a tal “nova amiga” de Claire tivesse um lado cômico sem cair na quase inevitável caricatura. Também roteirista do filme, Ozon mostra seu talento evitando ciladas fáceis e, mesclando a questão da sexualidade e os conflitos de Claire com muito bom humor, encaminha o longa para um final que não investe no desfecho que Rendell originalmente escreveu. Talvez tenha sido melhor assim.
David e Claire são vividos brilhantemente por Romain Duris (do incrível “A Datilógrafa“) e Anais Demoustier, e todo o resto é coadjuvante diante dessa parceria perfeita. Há cenas memoráveis, umas que podem gerar gargalhadas, outras lágrimas. É um filme que vai se apresentando e conquistando o espectador aos poucos, e que mostra que, na vida, o que importam mesmo são as relações sentimentais, muito mais do que a escolha e a forma com que você se (tra)veste ou as máscaras que você utiliza para sobreviver: se você acha o contrário, melhor nem assistir. Aos demais, recomendo imensamente.
Em tempo: este foi um dos felizes casos em que tanto o trailer quanto o cartaz são tão discretos que não entregam nem mesmo a história principal do longa. Prefiro assim.
Tommy Beresford