[Resenhas] Vermelho, Branco e Sangue Azul

Uma boa comédia romântica precisa somente ser recheada de fórmulas e clichês? Certamente que não. São bem-vindos? Claro que são. A questão sempre é a dosagem entre o que é usado de forma óbvia para capturar o espectador e o que é genuinamente interessante para a trama em questão. Talvez esta última frase seja, igualmente, um apanhado de clichês, mas o fato é: o que o público quer mesmo é mergulhar de cabeça num bom filme de amor, com aquelas reviravoltas já esperadas e, especialmente, protagonizado por performances absolutamente cativantes.

“Vermelho, Branco e Sangue Azul”, disponível na Amazon Prime a partir de agosto de 2023, é baseado em um livro de sucesso (de Casey McQuiston, 2019) que, no momento em que escrevo esta resenha, já está devidamente encomendado e chegará às minhas mãos em dois dias. Talvez, por conta disso, eu acrescente algum adendo a esta crítica — talvez (e provavelmente) não. O que importa é que o filme do diretor Matthew Lopez (que também co-escreveu o roteiro com Ted Malawer), estreante no cinema mas premiadíssimo no teatro, consegue arrebatar o espectador desde muito cedo, especialmente por não ter enrolado demais para que a relação entre os protagonistas de fato se revelasse. Com escolhas seguras e o auxílio luxuoso da bela fotografia de Stephen Goldblatt, Matthew nos envolve cena a cena, indo muito além da glamurosa ambientação de realeza e do tacanho viés político — a primeira poderia tornar tudo muito batido; o segundo, trazer um tom de american way of vamos-estragar-o-entretenimento que derrubaria o longa.

O ponto mais alto, sem dúvida, é a dupla Henry e Alex, tanto pela construção dos personagens no roteiro quanto pelas interpretações de Nicholas Galitzine e Taylor Zakhar Perez, intensos, integrados, íntimos, que entregam 200% de carisma e química. Nada soa falso na relação entre ambos, e mesmo quando Taylor é engolido pela gigante Uma Thurman (entre várias, há uma linda cena entre mãe e filho simplesmente apaixonante), seu Alex está sempre no tom, indo muito além do sedutor. Nicholas, por sua vez, está absolutamente perfeito desde o primeiro take — quando nos chateia, quando nos encanta, quando nos emociona com sua dor. Juntos, ambos nos fazem rir e chorar, desde os semi-pastelões da primeira meia hora, passando pela cena noturna da primeira declaração, os primeiros momentos íntimos juntos, seus olhares e sorrisos, suas dificuldades e declarações…

Entre várias (como não citar, logo no início, a sequência das primeiras trocas de mensagens?), talvez a cena mais significativa seja a do pequeno pier. Ali, sobre (e sob) a água, a direção de Matthew Lopez se agiganta na junção das perfeitas escolhas de fotografia, montagem e os detalhes das interpretações da dupla. Tudo é tão envolvente que até os dez minutos finais, onde somos despertados do enlevo romântico para o clichê político, são perdoáveis. Mais feliz é a “cena final da realeza”, de fechamento ainda que utópico, onde Stephen Fry brilha intensamente.

Em meio à tudo isso, não poderiam deixar de rolar referências a outras obras cinematográficas e da literatura, fiquem de olho. Há estereótipos? Há. Não seria uma típica comédia romântica se esta não os tivesse, mas o tratamento que recebem no longa são dignos e envolventes. E há o que vá muito além: a cena do museu é absolutamente devastadora, inesquecível…

“Vou quebrar a barreira do som por você”… Não há como não torcer o tempo todo pelos dois, e é isso que queremos num filme como este, mas torcemos também — nos filmes, na vida — pela quebra de tantas outras barreiras e preconceitos ainda vigentes. Faça sua pipoca e enxugue suas lágrimas na colcha – em 2023, que bom podermos não falar mais de lenços, que ótimo podermos nos deixar livres para nos apaixonarmos por dois jovens homens apaixonados. Viva o amor, viva o entretenimento, viva o cinema – no streaming, na sala escura, nos corações de cada um.

Tommy Beresford

~ por Tommy Beresford em agosto, 27 2023.

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