[Resenhas] Um Homem Sério

Um pouquinho de história pessoal (Joel e Ethan Coen confessam isso nos ‘extras’ da versão em DVD) misturada com um tom meio psicodélico e somadas aos preceitos judaicos de uma cidadezinha americana aparentemente bastante convencional em 1967: eis o caldeirão convulsivo de “Um Homem Sério”, que começa com uma espécie de trailer que pode parecer que não tem nada a ver com um filme (e nem é exatamente um conto judaico, como também explicam os diretores). Seja como for, tudo isto é na verdade apenas a ambientação: o mote central do filme é um balde cheio e feérico de “ó vida, ó azar” centrado em uma interpretação excelente de Michael Stuhlbarg.

Muitos elogiam os filmes de Joel e Ethan Cohen pelos excelente roteiros (e eis mais um) ou pela ótima escolha de um elenco eficiente (idem), mas prefiro destacar a direção absurdamente cuidadosa, que traz veracidade a uma trama tão datada em termos temporais e geográficos (embora mantenha-se fresca pelos comportamentos preconceituosos e cheios de rótulos que infelizmente perseveram no século 21). Cada cena é um primor, numa união de belas interpretações com um cuidado estético de primeira linha.

O filme é curioso porque desde o primeiro minuto vai irritando o espectador até o limite do intolerável, mas ao mesmo tempo, presos à narrativa com um super-bonder inquestionável, vamos entrando de cabeça na trama. “Tudo é matémática” se mistura com “Tudo é caos” e a intragável mas sempre repetida “Tudo poderia ser pior”… Melhor ficarmos com uma fala do filme, “Por favor, aceite o mistério”: a cada minuto, nos tornamos cada vez mais curiosos em saber se haverá um final feliz… na verdade, se haverá um final. No fundo, isso é o de menos.

Brilhante e candidato ao Globo de Ouro (perdeu para o Sherlock Holmes de Robert Downey Jr), Michael Stuhlbarg agarra seu personagem com unhas e dentes em meio a dilemas éticos, uma vizinha atraente, filhos adolescentes, um bar mitzvah, uma esposa (a ótima Sari Lennick) com um penteado tão bizarro quanto seu amante, um irmão meio estranho (outra excelente interpretação, a cargo de Richard Kind) e ao mesmo tempo uma vida vazia: nesta conturbada jornada diária e guerreira de Larry Gopnik, ainda assim tudo é palatável e instigante ao espectador quando surge pelas mãos afinadas dos irmãos Coen. Ainda que não seja seu melhor filme, é imperdível.

~ por Tommy Beresford em junho, 12 2010.

Uma resposta to “[Resenhas] Um Homem Sério”

  1. Achei muito divertido e cheio de ironias, marca dos irmãos Coen. Um filme para ser visto como curiosidade, um belo passeio pelos anos 60 e a cultura judaica.

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