[Resenhas] Sobre Meninos e Lobos

Sobre Meninos e Lobos, cartazOntem assisti no cinema a “Sobre Meninos e Lobos” (“Mystic River”). Um grande filme. Chorei copiosamente em vários momentos, até porque mexe com o meu lado pai. Mas não é só isso, até porque não é cinema-lacrimogênico, está longe disso.

“Sobre Meninos e Lobos” traz uma direção como sempre caprichada de Clint Eastwood, bela, fotografia, som e montagem bem feitos, suspense dosado na medida certa e um ótimo roteiro. Mesmo quando há uma boa trilha por trás, sempre gosto dos “silêncios” do diretor Eastwood, que já abusara positivamente deles em “As Pontes de Madison” (“The Bridges of Madison County”, de 1995), onde ele também contracena com a soberba Meryl Streep e cria cenas fabulosas e para muitos inesquecíveis.

Mas, lá como cá, tal como em “As Pontes….” é a interpretação dos atores que realmente faz com que, na minha visão, o filme passe do já pomposo patamar de excelente e seja considerado por mim maravilhoso. Em papéis menores, Kevin Bacon, Laurence Fishburne e Laura Linney dão conta do recado, sendo que arrisco-me a dizer que Bacon tem boas chances de ser indicado ao Oscar de ator coadjuvante. Nunca o achei um ator brilhante, mas ele agarrou com unhas e dentes a personagem que, dos três amigos que começam ainda criança o filme, é o que tem papel menor na trama.

Tim Robbins é sempre um ator de fibra e transborda seu talento seja qual for o papel que receba. Brilha em cada cena, na corda bamba de uma personagem que, a cargo de outro ator menor, poderia ficar inverossímil. Marcia Gay Harden já havia ganho seu primeiro Oscar como atriz coadjuvante em 2001 por “Pollock” (2000, de Ed Harris, que dirigiu e protagonizou o filme), e está absolutamente fantástica como esposa das angústias, dúvidas e sofrimento. Pode ganhar sua segunda estatueta no ano que vem, e será merecida.

Mas eis que Sean Penn está no filme. E ele arrasa todos os quarteirões, desde a primeira cena, em que meramente está na mesa de sua empresa, despedindo-se de sua filha e (de)notando que o olhar dela foi singular. Durante todo o filme, é impossível não se contagiar com sua emoção, silenciosa ou revoltada, de pai. Mesmo em cada lágrima sua não vertida, cada movimento e olhar é arrebatador. Mas seja em que cena for, mesmo com tantos grandes atores em cena, ele rouba o filme todo o tempo.

O mundo do cinema não é Oscar, eu sempre digo isso, mas gosto de ver grandes atores premiados com a estatueta, até porque torço por eles e vejo todas as premiações. Se a academia não o ignorar novamente, dessa vez o Oscar é dele. Vale lembrar que ele foi indicado outras três vezes: em 1996 por “Os Ultimos Passos de Um Homem” (“Dead Man Walking”, de 1995, pelo qual Susan Sarandon levou o dela, mas ele não), em 2000 por “Sweet and Lowdown” (de 1999, dirigido por Woody Allen), e em 2002 por “I am Sam” (de 2001, onde contracena com minha querida Michelle Pfeiffer).

Não levou nenhum, e merecia todos, não desmerecendo os vencedores. Também nunca levou o Globo de Ouro, indicado três vezes, por “Os Ultimos Passos de Um Homem”, “Sweet and Lowdown” e em 1994 por “O Pagamento Final” (“Carlito’s Way”, de Brian De Palma, com Al Pacino). E ao também importante Screen Actors Guild Awards foi indicado 2 vezes, por “I am Sam” e “Os Ultimos Passos de Um Homem” e… também não levou.

Mas se nos EUA não ganha nada, no exterior foi super premiado: por “Os Ultimos Passos de Um Homem”, Sean Penn levou o Urso de Prata em Berlim como melhor ator. Em 1997, ganhou como melhor ator em Cannes por “Loucos de Amor” (“She’s So Lovely”, de Nick Cassavetes, com John Travolta) e foi indicado novamente em 2001, mas como diretor, à Palma de Ouro por “A Promessa” (“The Pledge”, com Jack Nicholson e grande elenco).

No Festival de Veneza, levou 2 vezes o prêmio de melhor ator, em 2003 por “21 Grams” (elogiado filme de Alejandro González Iñárritu com Naomi Watts e Benicio del Toro, outro provável candidato ao Oscar 2004), e em 1998 por “O Alvoroço” (“Hurlyburly”, de Anthony Drazan, com Kevin Spacey). No mesmo festival, ganhou o “UNESCO Award” como diretor do segmento americano de “11’09’01 – September 11”, prêmio dividido com os demais 10 diretores do mesmo filme.

Não percam. Não é um filme-pipoca, é preciso digeri-lo, mas (felizmente) não é um filme-cabeça, o que o tornaria mais hermético e menos acessível. Portanto, de certa forma prepare-se, mas aproveite cada fotograma.

Tommy Beresford

Sobre Meninos e Lobos, cena com Sean Penn

~ por Tommy Beresford em dezembro, 11 2003.

Deixe um comentário