[Resenhas] O Quarto de Jack

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Confesso que saí tão impactado de “O Quarto de Jack” que não me senti seguro para escrever minha resenha a respeito logo após assistir ao longa no cinema. Baseado na obra de Emma Donoghue (que adaptou o roteiro para o cinema), o filme conta bem mais do que a história de um menino de cinco anos criado por sua mãe num pequeno quarto. Fala sobre o tamanho do universo de cada um.

Me lembro de um músico bastante talentoso mas não nacionalmente famoso e desconhecido das novas gerações. Durante uma entrevista, alguém disse que ele deveria ter sucesso mundial, tamanha a qualidade de sua obra. Ele respondeu dizendo que ele já era um “sucesso mundial” na região onde ele escolheu viver e trabalhar, e isso lhe bastava. Esse era seu mundo, o universo ao qual pertencia. Ainda que em uma situação completamente diferente e não opcional, no caso do pequeno ele já nasceu naquele pequeno quarto e, ali, parecia que tudo lhe bastava, tudo lhe era suficiente, e o “espaço exterior” era quase que uma fábula, uma história do passado de sua mãe que ele não tinha ideia de como era: não era real, é como se nada houvesse “do lado de fora”, como se não houvesse o “fora”.

A direção de Lenny Abrahamson (de “Frank”, de 2014) trouxe o lado claustrofóbico de se viver num local sempre trancado e sem janelas sem contudo sufocar o espectador, embora este sem dúvida se sinta incomodado o tempo todo com a situação terrível do cativeiro. O roteiro é um dos pontos altos do longa, tudo no tempo certo, ótimos diálogos e dando vontade a quem assiste de também ler o livro. Lenny conseguiu vaga na categoria de Melhor Diretor no Oscar 2015/2016, deixando de fora nomes como Quentin Tarantino (“Os Oito Odiados”), Ridley Scott (“Perdido em Marte”) e Todd Haynes (“Carol”), e o Emma Donoghue também foi indicada na categoria Melhor Roteiro Adaptado.

O único esnobado pela academia foi o pequeno Jacob Tremblay, várias vezes premiado como revelação como o pequeno Jack. Incrível sua atuação desde o início, mas especialmente na segunda metade do longa. Brie Larson venceu todos os principais prêmios do ano como a mãe de Jack, e merecidamente: de cara lavada, sua atuação é simplesmente arrebatadora. Joan Allen e William H. Macy interpretam os pais da personagem e também ajudam com muito talento, na segunda metade do filme, a entendermos qual era o mundo que Joy, a personagem de Larson, deixara pra trás… E qual seria o “mundo exterior” que ela encontraria?

A principal pergunta é: o que é realmente ser livre? E isso me lembra outra resenha que fiz sobre dois filmes ao mesmo tempo, “A Incrível História de Adaline” e “Cake” (leia aqui). O que nos liberta, o que nos aprisiona? Qual o tamanho de nosso universo de fato, o que temos a conquistar, quais são os limites de nosso gueto ou nicho? E qual o tamanho dos nossos monstros: serão eles maiores que nossos sonhos e expectativas?

O filme é todo construído com extrema delicadeza, e não tenta “traumatizar” também o espectador, mas colocá-lo para pensar: “e se…”. Assista com seu coração aberto e deixe-se emocionar. Sem dúvida um dos melhores filmes da safra do Oscar: dos que concorriam a Melhor Filmes, este foi o que mais me tocou. Recomendo imensamente.

Tommy Beresford

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~ por Tommy Beresford em março, 22 2016.

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