[Resenhas] Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Falar de “Glass Onion: Um Mistério Knives Out” é tarefa prazerosa para quem é fã de histórias de mistério e suspense, especialmente Agatha Christie. Embora o filme não seja a versão cinematográfica de nenhuma obra da Dama do Mistério, é inevitável lembrar que a autora é fonte de inspiração tanto para este quanto para seu antecessor, “Entre Facas e Segredos” que, por sinal, passou primeiro pelos cinemas e foi sucesso absoluto de bilheteria, fazendo mais de 300 milhões de dólares a partir de um orçamento bem mais modesto, 40 milhões de doletas. Já o novo filme estreou diretamente no streaming em 23 de dezembro de 2022.

Novamente temos Daniel Craig brilhando no papel do deveras extravagante detetive particular Benoit Blanc, mas “Glass Onion” não repete nem o clima nem o casting do anterior: uma troupe de excelentes atores, entre consagrados e menos conhecidos, compõe o admirável staff de artistas que, até a data desta resenha, fez com que o filme levasse diversos troféus de Melhor Elenco nas primeiras premiações americanas (são quase uma centena) da temporada 2022/2023 (lembrando que esta categoria não existe no Oscar, nem mesmo o garante na categoria de Melhor Filme, embora possa sim ser lembrado na lista de indicações que sairá em breve).

A ideia, ainda que não seja inédita (e nem precisa), é criativa e bem executada: reunir numa casa de luxo no meio de uma ilha (“da fantasia”, ou quase isso) um grupo de amigos que seriam os possíveis “detetives”, na verdade testemunhas, de um assassinato. Benoit Blanc é o único penetra da história e, claro, está nas mãos dele solucionar o mistério.

O ritmo vai acelerando freneticamente com o passar do tempo, o visual é excessivamente repleto de balangandãs tão luxuosos quanto de gosto duvidoso (mas a direção de arte, é preciso pontuar, é digna de elogios), coerentes com o estilo do anfitrião. Os figurinos, aliás, são um filme à parte, um dos grandes acertos do longa, assim como a citação explícita, logo nas primeiras cenas, à pandemia de Covid-19.

Em meio aos excessos, Rian Johnson faz uma direção segura apoiado em uma boa edição, na excelência do elenco e em um roteiro (premiado no Washington DC Area Film Critics) bem urdido. Daniel Craig, Edward Norton, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Leslie Odom Jr, Kate Hudson, Dave Bautista, Jessica Henwick, Madelyn Cline… os protagonistas estão todos muito bem, especialmente Janelle Monáe que (voltando às premiações) foi vencedora de algumas das categorias de Melhor Atriz Coadjuvante do ano, uma das mais equilibradas da temporada, por sinal. Edward Norton, o anfitrião, faz uma milionadmirável performance, que remete aos famosos nomes de megaqualquer coisa do século XXI que conhecemos ou ouvimos falar pelo noticiário (Musk, Hughes, Rogan, Bezos e demais “whoever” que, daqui a vinte anos, se esta resenha ainda sobreviver, talvez nunca mais sejam lembrados).

O diretor conseguiu extrair ótimas performances também de Dave Bautista, um dos pontos divertidos do filme em um estereótipo macho-man mesmo quando “armado de sunguinha”, e Kate Hudson, que andava sumida das telas brasileiras, em uma de suas melhores atuações desde… nem sei mais, talvez desde “Quase Famosos”. Tão incríveis quanto os protagonistas são as “participações afetivas” que perderiam a graça se contarmos todos os nomes aqui. Cito apenas a rápida e deliciosa cena com Serena Williams como uma seleta e cara “personal”.

Talvez “Glass Onion” tenha um mistério menos complicado de solucionar que “Entre Facas e Segredos”; para quem gostou ou mesmo quem não viu o primeiro, fica a dica: assistam aos dois. São, repito, filmes bem diferentes, mas ambos muito bons, recomendo como excelente entretenimento e uma boa forma de treinar seus dons detetivescos.

Tommy Beresford

~ por Tommy Beresford em dezembro, 27 2022.

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