RJ: Estação Paissandu, The End

Reportagem de Eduardo Fradkin para O Globo:

Daqui a uma semana, o Rio perderá um templo do cinema de arte. O Estação Paissandu, no Flamengo, exibirá sua última sessão no próximo domingo, conforme noticiou ontem a coluna Gente Boa. A programação de encerramento se iniciará na sexta-feira e terá filmes marcantes de seus 48 anos de existência. Os títulos ainda estão sendo escolhidos pelo Grupo Estação, que administra a sala, mas já se sabe que as sessões serão das 10h às 22h, com ingressos a R$ 1. Baluarte da contracultura durante o regime militar, o cinema formou, nos anos 1960, a Geração Paissandu, rótulo que agrupava jovens cinéfilos e intelectuais de esquerda incapazes de perder os longas de Jean-Luc Godard, Louis Malle, Michelangelo Antonioni, François Truffaut e outros cineastas autorais.

Diretora de exibição do Grupo Estação, Isabela Santiago conta que, desde 2005, se tenta salvar o cinema da extinção:

– Foi há três anos que o proprietário do imóvel o pediu de volta, o que é um direito dele. Mas, como não queríamos fechar um cinema que tem um imenso valor histórico, negociamos com ele para conseguirmos tempo e encontrarmos um patrocinador interessado em manter o Paissandu. Cinema de rua com uma única sala não é economicamente viável hoje em dia, daí a necessidade de patrocínio.

Foram elaboradas duas propostas. Uma era dividir o cinema em duas salas, o que exigiria uma reforma cara, mas diminuiria o custo de manutenção a longo prazo, pois o faturamento aumentaria. A outra era deixar tudo como está e usar a verba para pagar as contas do cine e para restauros ocasionais. Nenhuma empresa fechou acordo.

– O que temos hoje é uma sala muito grande e um público muito pequeno, restrito às imediações. Os cinemas, com o tempo, diminuíram o tamanho de suas salas e passaram a ter muitas delas num só endereço, possibilitando a exibição de vários filmes. Além do Paissandu, possuímos apenas um cinema de rua com uma sala, o Odeon, que tem patrocínio da Petrobras e só assim se mantém. Já os outros, como o Estação Botafogo, não correm risco porque são complexos com mais de uma sala – explica Isabela.

Em janeiro deste ano, uma reforma de R$ 100 mil foi feita no Paissandu para melhorar os banheiros, trocar o carpete e instalar novas poltronas. Até então, havia esperanças de surgir um patrocinador. O Grupo Estação assumiu a direção da sala em 1990, num período de decadência em que até filme pornô entrava em cartaz.

Quando foi inaugurado, em dezembro de 1960, com a comédia italiana “Somos homens ou…”, o cine não era voltado para o público que o celebrizou. A mudança de perfil ocorreu em 1964, quando a empresa Franco-Brasileira, que geria a sala, assinou um contrato com a Cinemateca do MAM e começou a passar filmes de Ingmar Bergman e outros nomes cultuados.

– Eu me aproximava do Paissandu meio atemorizado, porque naquela geração eram todos oniscientes. Eu participava timidamente das discussões que se seguiam às sessões porque, se você falasse mal de certos filmes, acabava a sua vida social, acabavam as suas chances de namorar. Com o fechamento do Paissandu, encerra-se uma época em que o cinema era discutido, não era um mero brinquedo, mas um veículo para a revolução – teoriza o cineasta José Joffily.

O Grupo Estação alega não saber o que acontecerá ao imóvel. O proprietário não foi encontrado pelo Globo até o fechamento desta edição.

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UPDATE – Post de 28.08.2008: “Fim do Estação Paissandu: Programação

~ por Tommy Beresford em agosto, 25 2008.

2 Respostas to “RJ: Estação Paissandu, The End”

  1. […] O Cinema Paissandu vai fechar as portas neste domingo, dia 31 de agosto. No último fim de semana a programação terá filmes clássicos, com ingressos a R$ 1,00. […]

  2. Assisti alguns grandes filmes lá (Cria Cuervos foi um deles acho) e dá um dó vê-lo fechar, mas também não adianta manter algo que já não atrai público.

    Se houvesse uma forma de criar uma programação para ele que fosse capaz de torná-lo um ponto cultural de destaque… Mas existe até um Sesc próximo, não é? Lá existe uma sala de cinema moderna e confortável.

    Espero do fundo do coração que ele, se deixar de ser um cinema, se torne ao menos um tipo de centro cultural.

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