[Resenhas] Bastardos Inglórios

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Confesso que não gosto de assistir a filmes — por melhores que sejam — que remetam a passagens tão cruéis da história da humanidade, como o extermínio dos judeus na Segunda Guerra. Mas considerando que “Bastardos Inglórios” é uma obra de ficção, sem correspondência de fidelidade com os acontecimentos dos anos finais do conflito mundial, e sendo um filme elogiado do igualmente elogiado Quentin Tarantino, não poderia deixar de assistir.

Tal como acontecera em “Kill Bill Volume 2”, e se estendermos um pouco as memórias, Sergio Leone tem influência direta nas escolhas de Tarantino para este novo filme, e até há um pouco de John Ford — mas vejo exageros em citações como Truffault e Peckinpah, que li em críticas após ter visto o filme. Seja como for, nada de cópias, no máximo inspirações, das boas, como somatório das influências que povoam o imaginário de qualquer diretor que, Tarantino em especial, bebeu desde criança na fonte dos grandes mestres sem perder sua própria vontade de ser diferente. Pois “Bastardos Inglórios” é um filme diferente deste diretor tão diferente. Tem cinco grandes sequências, pequenas histórias sequenciais muito bem filmadas e que geram um final delirante e apoteótico (inclusive com toda a sua violência explícita habitual) para um trama que no fundo é bem simples, ainda que “fabulística”.

O filme é excelente. Talvez seja o melhor Tarantino desde “Pulp Fiction”, seu grande marco… e como são diferentes os dois filmes, felizmente. Mais do que nunca, o elenco é um pequeno tesouro. Diane Kruger e Mélanie Laurent brilham intensamente, em especial nas sequências “do carteado” e “do doce com creme”, respectivamente. Num elenco que tem uma participação relâmpago de Mike Myers quase irreconhecível (e ótimo) e diversos atores pouco conhecidos do grande público (igualmente ótimos), Brad Pitt está muito bem, embora não seja exatamente um protagonista, conforme a propaganda sugere.

O grande protagonista do filme é o coronel Hans Landa, o “vilão”, embora esta expressão soe patética para o contexto de tantas barbaridades. Tarantino começou a procurar por atores na Alemanha, mas não conseguia encontrar alguém que ele achasse que poderia interpretar com maestria um poliglota que fosse bom ator suficiente para dar ao filme a sutileza de crueldade que o papel pedia. Foram centenas de entrevistas do diretor e dos produtores, e Christoph Waltz só surgiu para os testes quando Tarantino já cogitava até cancelar as filmagens por não ter encontrado o ator ideal para Landa. De acordo com o diretor, “Christoph apareceu, sentou diante da câmera e leu duas cenas para nós. Lembro-me de me virar para Lawrence e gritar: ‘Vamos fazer esse filme!'”…

E foi seu grande acerto. É inegável: o filme é totalmente de Christoph Waltz, que agarrou com unhas e dentes o verdadeiro presente para sua carreira que é este difícil papel do coronel Landa. Por conta dele, o ator austríaco acabou conquistando o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes e já entrou nas apostas de diversos outros prêmios, incluindo o Oscar 2009/2010. Sensacional e (que difícil dizer isso para o papel que ele interpreta !) hipnotizante.

Portanto, não vá assistir ao filme simplesmente por causa de Brad Pitt. Se bobear, nem vá por causa de Tarantino. Vá pelo menos pela grande interpretação de Christoph Waltz. E se gostar, aproveite para ler o roteiro, já à venda nas melhores livrarias.

Tommy Beresford

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~ por Tommy Beresford em outubro, 13 2009.

4 Respostas to “[Resenhas] Bastardos Inglórios”

  1. O melhor de Tarantino. Depois de “Cães de aluguel” e “Pulp Fiction”, Tarantino só tinha feito algo mais elogiável nas duas parte do “Kill Bill”. Neste, a estória flui com leveza de uma tusnami, carregando as nossas emoções já fragilizadas nos excelentes diálogos das cenas longas e surprendentes. O ator Cristoph Waltz rouba todas as cenas e já é um forte candidato ao próximo Oscar.

  2. Na sessão em que assisti a esse filme, logo quando subiu os créditos, o público aplaudiu extasiado. O filme realmente é muito bom e, assim como em Kill Bill (filme já disponível em Blu-ray), a narrativa tem diálogos e metáforas muito bem sacadas que anunciam picos de tensão e prendem o espectador do começo ao fim.
    Quanto ao irreconhecível Mike Myers, só depois de ler esse post é que me dei conta que ele estava lá. Abraço!

  3. […] Beresford CINEMA É MAGIA “O filme é totalmente de Christoph Waltz, que agarrou com unhas e dentes o verdadeiro […]

  4. Sinceramente não achei o filme nenhuma maravilha, mas um Tarantino é sempre um Tarantino… Brad Pitt com seu jeito “rasgado” de falar é engraçado e Christoph Waltz realmente é O ator do filme.

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